4 dados sobre a saúde mental das mulheres

4 dados sobre a saúde mental das mulheres

Em Janeiro mês que foi designado para a importancia da saúde mental, buscamos dados sobre situações que afetam a saúde mental das mulheres no dia a dia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% das pessoas que vivem com condições de saúde mental estão sem nenhum tipo de tratamento qualificado para o cuidado.

Mesmo que o sofrimento psíquico seja comum a todas as pessoas, os impactos são diferentes para alguns grupos. Isso porque quando falamos em saúde mental é preciso considerar os determinantes sociais que atravessam o tema, como acesso à educação, moradia, alimentação, trabalho, transporte, cultura, familiar, entre outros.

Por isso é necessário ter olhares segmentados para a saúde mental e priorizar alguns grupos que merecem atenção. Não podemos pensar soluções únicas, que tratem da mesma forma sofrimentos que têm atravessamentos diferentes, precisamos propor abordagens específicas para cada público para promover, de forma adequada e assertiva, a cultura de promoção e prevenção em saúde mental.

Na impossibilidade de atacar todos os problemas de uma única vez de forma efetiva e consistente, elegemos adolescentes e mulheres como públicos prioritários para focar nossas ações aqui no Instituto Cactus. Elas são as principais responsáveis por práticas de cuidado, predominando em categorias como educadoras, enfermeiras, assistentes sociais, entre outras, além de referências em seus núcleos familiares. São importantes vetores de mudança e têm recebido uma atenção insuficiente quando o tema é saúde mental.

Entendemos que as mulheres trazem questões relevantes que merecem ser priorizadas na compreensão e abordagem da saúde mental. Para ilustrar esse argumento, buscamos os transtornos que mais afetam as mulheres.

Segundo dados uma em cada cinco mulheres apresenta Transtornos Mentais Comuns (TMC) e a taxa de depressão é, em média, mais do que o dobro da taxa de homens com o mesmo sofrimento, podendo ainda ser mais persistente nas mulheres. A prevalência de condições de saúde mental é maior nas mulheres e isso vai muito além da perspectiva biológica. Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, o gênero implica diferentes suscetibilidades e exposições a riscos específicos para a saúde mental, por conta de diferentes processos biológicos e relações sociais. Ser mulher perpassa papéis, comportamentos, atividades e oportunidades que determinam o que se pode experimentar ao longo da vida e, portanto, estabelece vivências estruturalmente diferentes daquelas experimentadas pelos homens.

Apontada como um dos principais fatores que deixam as mulheres especialmente vulneráveis aos sofrimentos psicológicos, a sobrecarga física e mental de trabalho é um enorme desafio. Em mulheres com alta sobrecarga doméstica, o número de mulheres com TMC vai de 1 a cada 5 mulheres para 1 a cada 2 mulheres. A baixa qualidade do emprego que atinge diversas mulheres, com predomínio da informalidade, do caráter temporário e da precariedade dos vínculos, também pode gerar temor e ansiedade, cenário que pode piorar quando somado ao trabalho em casa, onde as mulheres têm de administrar o trabalho remunerado e tarefas domésticas. Além disso, padrões irregulares de carreira, tempo fora do mercado de trabalho para cuidar dos filhos e para o trabalho de casa, licença maternidade, doenças físicas e questões de saúde mental podem afetar a percepção sobre a disponibilidade e compromentimento da mulher, sobre a qual se baseiam muitas contratações, levandoà discriminação e exclusão do mercado de trabalho.

É durante o período da adolescência que as normas de gênero são consolidadas e com isso se intensifica a discriminação de gênero. Normas de gênero podem limitar a capacidade das meninas de viajar ou frequentar a escola, os lugares em que podem ir ou o tipo de interações sociais que podem ter, além de limitar as expectativas do que podem ter, a forma de tratamento, as possibilidades, poder e recursos. As meninas são mais propensas do que os meninos a se casarem quando crianças, a abandonar a escola e a experimentar iniciação sexual forçada. As meninas que se casam antes dos 18 anos ou engravidam precocemente podem encontrar menos oportunidades de educação e emprego remunerado, menor capacidade de tomada de decisões e maior risco de violência por parceiro íntimo.

A saúde mental das mulheres também pode ser impactada por serem vítimas de violência psicológica, física, sexual e institucional, resultado de uma gama de práticas sociais e culturais machistas. Mulheres que foram expostas a violências na infância parecem apresentar maior risco para revitimização na vida adulta, não raro apresentando episódios depressivos, de ansiedade, estresse ou relações prejudiciais com a alimentação e drogas. Quase 30% das meninas adolescentes entre 15 e 19 anos relatam violência física e/ou sexual ao longo da vida por um parceiro íntimo e têm mais chances que os meninos de serem infectadas por HIV. Mulheres vitimadas por parceiros íntimos podem reproduzir comportamentos violentos e, potencialmente, sofrem posterior exclusão social, assim como julgamentos baseados no gênero, o que dificulta o acesso ao acolhimento em saúde. Em algumas culturas, mulheres e meninas, comumente são expostas à violência e práticas como contracepção, aborto e esterilização forçados.

Sabendo que se vincular ao processo psicoterapêutico pode ser um desafio para pessoas em situação de vulnerabilidade, a sensação de ansiedade, tristeza com maior frequência e intensidade, mudança de comportamento, exposição a situações violentas, isolamento, baixo rendimento no trabalho e nos estudos podem ser alguns dos sintomas apresentados no início do sofrimento psíquico, como ressalta o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília Leonardo Sodré.

Para conseguir o acolhimento e o tratamento, é possível procurar alguns caminhos dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), que conta com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS):

  • Unidade Básica de Saúde (UBS): porta de entrada para todos os casos e acolhe casos leves e moderados.
  • Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): destinado ao atendimento de pessoas com sofrimento mental grave, seja em situações de crise ou em processos de reabilitação psicossocial. Funciona em regime de porta aberta, sem necessidade de agendamento prévio ou encaminhamento para ser acolhido no serviço.
  • Pronto-socorro: atende principalmente emergências.

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