Por Daiana Cristina
Pelo menos 68% dos adultos brasileiros apresentam Índice de Massa Corporal (IMC) elevado em 2025, segundo o World Obesity Atlas 2024. Aproximadamente 31% da população adulta vive com obesidade.
Os dados evidenciam um grave problema de saúde pública no país. A obesidade é um fator de risco para diversas doenças crônicas, como hipertensão, diabetes tipo 2, colesterol alto, além de aumentar as chances de acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardíacas e diferentes tipos de câncer.
Diante desse cenário, é necessário que o poder público invista em políticas de prevenção à obesidade, ao mesmo tempo em que se promove a conscientização da população sobre a importância de hábitos de vida saudáveis.
Uma história de superação: a realidade do sobrepeso
Se em 2022 a moradora de Pontes e Lacerda, Libína Carvalho, não tivesse mudado seus hábitos de vida, provavelmente hoje ela faria parte das estatísticas da obesidade.
Há três anos, um exame de rotina trouxe um grande choque de realidade: a alimentação inadequada e a total ausência de atividade física estavam conduzindo Libína ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, colesterol alto e esteatose hepática (gordura no fígado). Além disso, ela sofria com fadiga constante e cansaço extremo.
Ao tomar consciência dos riscos que corria, Libína iniciou sua jornada por uma vida mais saudável com uma bicicleta comum. Após uma pausa para tratar um problema de saúde uterino, ela ficou cerca de um ano afastada das atividades físicas.
“Quando você perde o ritmo, é difícil voltar. Tem que ter muita força de vontade”, disse ela em entrevista.
Decidida a sair do comodismo, Libína recomeçou aos poucos: traçou sozinha uma rota para caminhadas e, não satisfeita, passou a correr, superando os próprios limites em busca de um melhor condicionamento físico.
Hoje, com a atividade física incorporada à rotina, ela percorre mais de 14 km por dia ao lado de um grupo de mulheres que conseguiu se motivar com sua história de transformação. Além disso, reformulou a alimentação da família e, constantemente, inspira outras mulheres a seguir o mesmo caminho.
Mudança de mente para mudança do corpo
Quantas mulheres como Libina conhecemos? Mudar de hábitos para transformar a vida requer mais do que uma simples decisão: exige uma verdadeira mudança de mentalidade.
Libina representa muitas outras mulheres que conquistaram essa mudança em busca de saúde e bem-estar. Para a psicóloga Helen Albuquerque, de Pontes e Lacerda, esse processo vai além da prática de atividades físicas.
“Percebo que um dos maiores desafios é quebrar padrões mentais enraizados — aquelas crenças do tipo: ‘não tenho tempo’, ‘exercício é sofrimento’ ou ‘já estou velha demais para isso’”, afirmou em entrevista.
Outro fator citado por ela é o emocional. Muitas pessoas associam o corpo à frustração, à baixa autoestima ou a experiências negativas — e isso pode interferir tanto no início quanto na continuidade das atividades físicas.
Por que tantas pessoas começam e desistem?
Helen aponta o imediatismo como uma das principais causas. “Vivemos em um mundo imediatista, e o corpo não muda de um dia para o outro. Isso pode gerar frustração e levar ao abandono precoce.”
Ela explica que o nível de motivação interna é mais importante do que pressões externas. Também é fundamental considerar as recaídas como parte do processo, e não como um sinal de fracasso ou abandono da prática.
Como manter a constância?
A dificuldade de perceber os próprios avanços — mesmo que ainda não visíveis no espelho — pode enfraquecer a disciplina nos treinos. É importante observar outros sinais de progresso, como a qualidade do sono, a disposição no dia a dia e as mudanças no humor.
“Nosso cérebro geralmente busca prazer e evita o desconforto. E o exercício físico, especialmente no início, vai contra isso — porque cansa, exige esforço e tira a gente da zona de conforto. É como se fosse interpretado como uma ameaça ao nosso bem-estar habitual”, explica a psicóloga.
Por fim, ela recomenda que cada pessoa encontre um propósito. “O motivo para praticar atividade física precisa estar ligado a algo significativo — como a saúde, a autoestima ou a superação. Assim, o hábito tem muito mais chances de se sustentar.”
Psicóloga Hellen Albuquerque – Ela incentiva no poder do hábito e propósito para o bem-estar. Foto: Arquivo pessoal