Ser mãe é complexo. Ainda mais quando temos atitudes diferentes das quais fomos criadas. Minha meta era ter sete filhos e os cinco que tive me renderam a famosa pergunta ‘se eu não tinha televisão na minha época’ eu brinco dizendo que tinha sim, mas eu aproveitava dos intervalos comerciais.
Quando eu era jovem tinha aquela coisa de fazer enxoval, guardar toalhas e fazer ‘bico’ nos panos. No entanto, eu era a menina que andava de skate, brincava na rua e as pessoas da época achavam que eu não tinha preparo nenhum para ser mãe e cuidar de casa. Eu fui criada pela minha mãe junto com mais quatro irmãos e no meio da “homarada” as responsabilidades do lar ficavam comigo, e mesmo assim eu sempre achava um jeito de fazer as atividades que eu gostava.
Assim que me casei, fiquei grávida e meu marido trabalhava viajando, voltava para casa a cada 15 dias. Inclusive, quando a minha primeira filha nasceu ele estava no aeroporto a caminho de casa. Como nunca fui a pessoa que constrói problemas onde não existe e nem aumento onde ele existe, para mim isso nunca foi uma questão. Tenho a máxima de que se tem como resolver não é um problema e se não tem como resolver também não é um problema meu, porque eu não tenho como resolver. Me entende?
Cada história é uma história diferente. Tive minha primeira filha após 15 horas de trabalho de parto, com um certo receio de que aquilo me privaria de ter os outros filhos, pois naquela época se dizia que a cesárea limitava, como eu era jovem, praticava esporte, dançava muito eu achava que daria à luz normal, porém a médica precisou intervir.
Minha primeira experiência foi muito boa, me lembro que as minhas recuperações eram muito tranquilas por eu não focar no sofrimento. Fato é que eu sou uma mãe que curtia ficar grávida, ficar barriguda e trocar o guarda-roupa. Não era uma fase de pesar, pois eu tive gestações que me possibilitaram continuar no meu pique de trabalho e fazer as minhas coisas sem dificuldades. Tive o segundo bebê e as coisas mudaram um pouco. Não dá para achar que quando você tem um filho, sabe tudo, porque o segundo é totalmente diferente do primeiro, que é diferente do terceiro e assim por diante.
Na quarta gestação, tive consequências por conta da anestesia que não pegou totalmente, gerando um parto sofrível e por fim a quinta gravidez, em meio a conflitos conjugais, veio para fechar um ciclo, a irmãzinha que minha primeira filha sempre pedia e isso me deixou muito feliz. Eu costumo dizer que ser mãe quando você compreende a essência de um amor que não precisa ter troco, não precisa ter devolutiva, ele é pelo fato de ser. Como diz a música do Djavan, ‘por ser amor, invade e fim’. O amor é isso.
Acredito que cada filho vem de um jeito para que você possa melhorar-se como pessoa, é divino e necessário. Quando mães acham que têm que conduzir os filhos todos do jeito dela, todos eles tem que ser igual a ela, surge então a frustração, porque nenhum filho vai ser igual. Filhos tem que ser melhores do que nós, eles tem que saber qual o caminho que os faz melhor e não eu. Porque eu aprendo de um jeito, mas cada um aprende do seu jeito.
É aqui que surge a complexidade da maternidade. Vejo jovens procurando terapia para saber se estão errados, por se sentirem livres longe dos pais, porque sentem que não estão honrando pai e mãe. Honrar pai e mãe é o que você se torna, quando você se torna algo maravilhoso vão apontar o dedo e dizer “aquela é a filha da dona…”. É construir a sua história com base naquilo que você traz da sua ancestralidade, mas sem deixar a sua identidade, sem deixar de ser você. Isso é honrar pai e mãe.
Os orientais tem uma fala que eu gosto muito, eles dizem que filho bem criado é como flecha bem atirada, para o alto e para longe, porque uma flecha bem atirada não cai no pé. Se a gente entender isso, a gente não vai ficar se melindrando.
Entendo que sou uma coparticipante na criação, os filhos nem são meus, eu sou uma candidata a ser mãe depois, em outra esfera, por enquanto eu estou tentando me qualificar nesse papel. Se eu achar que eu posso cuidar melhor dos filhos de Deus, que foram concedidos a mim, é uma pretensão muito grande a minha.
É secular e milenar que as mães orem pelos seus filhos, que as mães abençoem seus filhos porque realmente as mães têm um poder muito grande para isso, mas abençoar, amar, não é dizer fique em baixo da minha saia, abençoar e amar é mandar ele ir. Tanto que se a gente for ver a história de Jesus Cristo e Deus o Pai, ele sofreu muito de ver tudo o que o filho dele passou, mas Cristo precisava passar por isso, para ter a glória maior e pra ele redimir toda a humanidade.
Então, é assim que como mãe entendo e vejo, nós temos que conduzir e inspirar e não mandar, porque ninguém ‘tem que’, não, isso é muito forte. É essa a Sonia mãe. Outra coisa importante é o seu estado de espírito, se você olhar o filho como um problema, não vai dar conta mesmo nem de um. Mas se você olhar como mais um para a festa, realmente será uma grande confraternização e é assim quando me reúno com os meus filhos, uma verdadeira festa.
Sonia Mazetto é Gestora de Potencial Humano, Terapeuta Integrativa, Fonoaudióloga e Palestrante