Fibromialgia: ‘Você não tem nada, é coisa da sua cabeça’ — A realidade por trás do diagnóstico

Fibromialgia: ‘Você não tem nada, é coisa da sua cabeça’ — A realidade por trás do diagnóstico

Por Daiana Cristina

O dia estava ensolarado, e o sol brilhou com intensidade, tornando o calor quase palpável. Dentro de casa, a fadiga se fazia presente devido à intensidade do calor. No sofá, Marli Bernardo estava imóvel, olhando para o nada e apalpando suas costas, tentando entender as dores que surgiam sem explicação. Ela lutava contra si mesma, tentando reunir forças para estender as roupas.

O dia longo passou e lá estavam as roupas no mesmo lugar. Agora, na cama, Marli está envolvida em uma dor angustiante e sem previsão de ir embora, o que a deixou estarrecida.

Será que foi o botijão de gás que peguei sozinha ontem? Pensou ela, buscando uma ajuda divina para compreender a situação.

As dores ressurgiram como brotos de uma flor recém-plantada em terra fértil, três dias depois, agora com cansaço, perda de sono e até uma melancolia escura e fria. O jeito foi buscar ajuda médica.

No consultório, que cheirava a álcool e erva-doce, os exames foram analisados. O diagnóstico veio rápido: “Você não tem nada, é tudo coisa da sua cabeça”, disse o médico, de cabeça baixa, para evitar perguntas.

De volta a outro médico, o parecer era o mesmo: “É coisa da sua cabeça!” As dores só pioraram e lá se foram quase seis anos sem entender o mal que afeta todo o seu corpo.

O formigamento nas mãos, a ansiedade e as dores tomavam o corpo. Ela, em um ato de desespero, procurou um clínico geral na cidadezinha de Pontes e Lacerda, que não conta com profissionais na área da reumatologia.

Pela primeira vez, em seis anos, ela foi ouvida, tocada e compreendida pelo médico, que, como uma criança brincando de caça ao tesouro, buscava diagnosticar a paciente.

Era uma quarta-feira quando veio o veredito: “Você sofre de uma síndrome chamada Fibromialgia.” Alívio por um lado, desespero por outro.

Já se passaram 10 anos daquela dor indescritível. Há anos com um diagnóstico.

Marli, hoje com 43 anos, entende sua condição, toma medicamentos, mas não está só. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a doença se manifesta em cerca de 2% a 12% da população adulta no Brasil.

Hoje, Marli leva uma vida normal, embora dentro das limitações impostas pela doença. Ela trabalha meio período e faz uso de medicamentos para aliviar as dores.

Após consultar diversos médicos, Marli agora se prepara para buscar um reumatologista, a fim de acompanhar a evolução da fibromialgia. Devido à escassez desse tipo de especialista em Pontes e Lacerda, ela precisará se deslocar até Cuiabá para a consulta.

O Que é fibromialgia 

A síndrome da fibromialgia (FM) é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. Junto com a dor, a fibromialgia cursa com sintomas de fadiga (cansaço), sono não reparador (a pessoa acorda cansada) e outros sintomas como alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais. Uma característica da pessoa com FM é a grande sensibilidade ao toque e à compressão da musculatura pelo examinador ou por outras pessoas.

Direito à Aposentadoria

O site Conexão Salto Alto entrevistou a advogada Pâmela Teodoro Vasconcelos, especialista em direito previdenciário de Pontes e Lacerda, para esclarecer alguns pontos sobre o direito ao benefício do INSS. Para a concessão desse benefício, alguns fatores precisam ser compreendidos:

A doença em si não dá direito ao benefício, mas sim a incapacidade que ela pode gerar. É necessário apresentar um laudo médico com informações sobre o acompanhamento da condição para dar entrada em direitos como o auxílio-doença, por incapacidade temporária.

Somente o paciente que estiver sem condições de exercer suas funções laborais devido ao agravamento da síndrome poderá conseguir a aposentadoria por invalidez, caso sofra de fibromialgia.

Há uma grande dificuldade na comprovação da doença, sendo necessário reunir laudos e até atestados médicos que comprovem a dificuldade no trabalho.

“Não se trata de uma síndrome funcional, como algo que apareça em um raio-X. Isso dificulta a comprovação da incapacidade da pessoa. A fibromialgia é uma doença nova, e alguns médicos e peritos podem subestimar o impacto que ela tem na vida do paciente devido à falta de comprovação objetiva da incapacidade.”, explicou Vasconcelos. 

O paciente que estiver incapacitado pode optar por entrar com o pedido junto ao INSS e, se necessário, procurar um advogado especialista para auxiliar na comprovação da síndrome.

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